terça-feira, 12 de março de 2013

Uma defesa da Melancolia - José Castello


Uma defesa da melancolia



          João Cabral de Melo Neto dizia que carregava "um buraco no peito". Reclamava com os médicos _ temia um problema cardíaco _ mas eles lhe receitavam antidepressivos e lhe falavam de uma tristeza própria da idade avançada. Mal saía do consultório, na primeira lixeira de rua, Cabral jogava a receita fora. "Esses médicos não entendem nada. Não é depressão o que sinto, é melancolia. A mesma de que sofriam os poetas do século 19", me disse, certa vez.

          Como sabem, visitei Cabral regularmente, durante um ano e meio, para gravar as entrevistas que resultaram em meu livro "João Cabral: o homem sem alma/ Diário de tudo", relançado pela Bertrand Brasil em 2006. Durante minhas visitas, o poeta freqüentemente reclamava desse buraco na altura do coração que, em vez de aliviá-lo, em vez de lhe ventilar a alma, lhe pesava. "Não é dor. Não é mal-estar. Não é nada. Ao contrário: falta alguma coisa", me disse também. "Falta uma coisa, fica o buraco, e você tem de carregá-lo".

          A poeta Marly de Oliveira, sua dedicada mulher, o obrigava a tomar os antidepressivos. Ela mesmo passou a comprá-los e a vigiar os horários prescritos pelo médico. Cabral, porém, guardava o comprimido em um canto da boca e, mal a Marly virava as costa, ia à janela e o cospia. "Plantei muitos antidepressivos nos jardins da entrada do prédio", orgulhava-se. Perseverava na melancolia _ como quem rega um cacto. Apesar do incômodo, preferia mantê-la viva. Para dela fazer um motor, ou um vaso, quem sabe, onde cultivava novos poemas.

          Essa história de Cabral me volta à mente enquanto leio "Melancolia (variação)",
poema do português Nuno Júdice, guardado em seu livro "Fórmulas de uma luz inexplicável" (D. Quixote, Lisboa, 2a edição, 2012). Nos versos luminosos de Júdice, está muito do que Cabral me dizia. O poeta se encontra regularmente com certa mulher, sempre no mesmo bar de Lisboa. Tinha o costume de ocupar a mesma mesa de canto, "talvez porque aquele canto conservasse melhor/ as suas palavras". Preferia o claro-escuro, fugindo da luz excessiva, para que ela "não desfizesse o mistério dos seus olhos".
          Os encontros, como tudo, terminam. O tempo passa. O poeta resolve, um dia,
revisitar o mesmo café. "...tinham mudado as mesas e/ já não havia nada no canto/ para
além/ de um armário de garrafas e copos". A iluminação do bar também se alterara: "uma luz uniforme apagava as sombras". A realidade, com seu peso, esmagava a memória. Escreve o poeta: "Eis como o tempo passa, e muda/as coisas/ Ali, onde se tinham encontrado/... nem um breve/ relance de memória me traz de volta o seu rosto".

          Não precisa nomear o sentimento que o empurra para o chão: basta-lhe que esteja no título do poema. Basta que o sinta. E, mesmo assim, está tudo dito. A melancolia não chega a ser uma tristeza, nem um pesar, tampouco precisa se manifestar através de apreensões. Certamente não é uma depressão. A bile negra (no grego: mélanos = negro + kholé = bile) é, como dizia Cabral, "um buraco". Dizendo talvez melhor: é algo que escorre desse buraco, algo que ele produz. Sem o rombo no peito, não vazaria. É preciso que o buraco esteja ali para que um humor doloroso e inexplicável escorra.

          É, em conseqüência, um buraco construtivo _ como aquele raspado pelas escavadeiras para que, só depois, um edifício possa ser erguido. Está na base de tudo. Daí Cabral reclamar que os médicos pretendiam, na verdade, "calar" sua poesia. Talvez por isso (arrisco-me a pensar) haja tão pouco lugar para a poesia no mundo de hoje. Vivemos a era das próteses, dos tampões, dos substitutos, das vedações. Um pequeno buraquinho surge em um dente, algo que você nem tinha notado, algo que nem chega a doer, e o dentista logo lhe sugere uma obturação. Um pequeno defeito no corpo, uma falta _ e você não sossega enquanto não faz uma plástica.

          Vivemos em um mundo obturado: basta ver os seios e as coxas e os músculos
artificiais exibidos, com glória e descaramento, nas academias de ginásticas e nas telas.
Um mundo que glorifica o "cheio", que ama a saturação, e que não suporta o vazio. Como diz Gerry Maretski, a corpoanalista: o mundo que não suporta "o espaço entre". Nas academias, rapazes e moças erguem e soltam pesos, em ritmo espartano e metódico. Não respiram entre eles. Não provam do "entre" de que Gerry tanto nos fala. Não suportam o intervalo, a espera, o silêncio. O vazio.

          Não aguentam provar da melancolia, que é amarga, mas fértil. É como no teatro, ou no cinema: é preciso a sala escura (bile negra) para que, em um foco de luz, a ação enfim se desenrole. Para que algo, enfim, aconteça. Sem a mesa de canto vazia do bar, o poeta chegaria a seu poema. Nada haveria a (tentar) preencher. Tudo estaria pronto, como nos restaurantes self service. Bastaria que nos servíssemos da vida _ como alguém pede uma pizza pelo telefone. Não haveria espaço (entre) para que a poesia possa escorrer.

          Não é que não suportemos a poesia, ou que não a "entendamos". Não é que ela seja um tolice de românticos. É coisa bem diferente: não aguentamos encarar o buraco de onde ela flui. Se há poesia, há falta. Homens "cheios de si" não suportam poemas. Não precisam deles. Contentam-se com sua ilusão de preenchimento e nela se enforcam. Lembro que Cabral, falando de sua melancolia, certa tarde me sugeriu: "Fique um pouco em silêncio. Feche os olhos. Pare". Não é fácil. Parecia um místico, logo ele, o poeta da matéria.

          Misticismo da matéria: eis onde chego. Luz inexplicável _ para usar a expressão que Nuno Júdice me oferece. Luz sem que explicação alguma, fórmula alguma, enchimento algum lhe é suficiente. Nada parecido com as luzes feéricas que cegam nosso século 21. Explosão de imagens, de flashes, de brilhos: nenhuma relação com a poesia, que precisa da escuridão _ como Teseu em seu labirinto _ para, só então, enfrentar seu monstro.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Classes gramaticais I - exercícios

1- Indique a classe gramatical da palavra destacada.
a) A população não suportará um novo reajuste nas tarifas de energia elétrica.
b) Uma de nossas reivindicações é a legalização de todos os partidos políticos.
c) O presidente sofreu um atentado quando discursava para uma grande multidão.
d) Porque alguns bancos estrangeiros insistem em fiscalizar a economia brasileira?
e) Qual foi a taxa de crescimento da produção industrial nesses últimos anos?
f) Cruzes! Como esses governantes gastam nosso desvalorizado dinheiro em promoção pessoas.
g) Vários bispos consideram uma afronta a igreja brasileira a punição ao esclarecido e combativo sacerdote.
 
 
2 . A frase em que os vocábulos sublinhados pertencem à mesma classe gramatical, exercem a mesma função sintática e têm significado diferente é:
                                
a) Curta o curta: aproveite o feriado para assistir ao festival de curta-metragem.
b) O novo novo: será que tudo já foi feito antes?
c) O carro popular a 12.000 reais está longe de ser popular.
d) É trágico verificar que, na televisão brasileira, só o trágico é que faz sucesso.
e) O Brasil será um grande parceiro e não apenas um parceiro grande.


3. Um dos traços marcantes do atual período histórico é (...) o papel verdadeiramente despótico da informação. (...) As novas condições técnicas deveriam permitir a ampliação do conhecimento do planeta, dos objetos que o formam, das sociedades que o habitam e dos homens em sua realidade intrínseca. Todavia, nas condições atuais, as técnicas da informação são principalmente utilizadas por um punhado de atores em função de seus objetivos particulares. Essas técnicas da informação (por enquanto) são apropriadas por alguns Estados e por algumas empresas, aprofundando assim os processos de criação de desigualdades. É desse modo que a periferia do sistema capitalista acaba se tornando ainda mais periférica, seja porque não dispõe totalmente dos novos meios de produção, seja porque lhe escapa a possibilidade de controle.

 O que é transmitido à maioria da humanidade é, de fato, uma informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde. (Milton Santos, Por  uma outra globalização)

Observe os sinônimos indicados entre parênteses:

I “o papel verdadeiramente despótico (= tirânico) da informação”;
II “dos homens em sua realidade intrínseca (= inerente)”;
III “são apropriadas (= adequadas) por alguns Estados”.

Considerando-se o texto, a equivalência sinonímica está correta APENAS em:

a) I
b) II
c) III
d) I e II
e) I e III

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Deputados que votaram contra o aumento dos parlamentares.



ATENÇÃO: TODOS OS QUE VOTARAM CONTRA ESTÃO ASSINALADOS EM AZUL. 
DEM

Dos 33 políticos, apenas UM votou contra:

Major Fábio PB 

--------------------------------

PC do B

TODOS votaram a favor do aumento.

--------------------------------

PDT 

Dos 17 políticos, apenas DOIS votaram contra:

Fernando Chiarelli SP

Sueli Vidigal ES

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PHS 

Os dois políticos votaram a favor do aumento.

---------------------------------

PMDB

Dos 65 apenas TRÊS votaram contra:

Lelo Coimbra ES

Marcelo Almeida PR

Reinhold Stephanes PR


-----------------------------------

PMN

Os dois políticos votaram a favor do aumento.

-----------------------------------

PP

TODOS OS 30 políticos votaram a favor do aumento.

-----------------------------------

PPS

DOIS dos 8 políticos votaram contra o aumento:

Augusto Carvalho DF

Raul Jungmann PE

-----------------------------------

PR

TODOS OS 23 políticos votaram a favor do aumento.

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PRB

TODOS OS 4 políticos votaram a favor do aumento.

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PSB

TRÊS dos 18 políticos votaram contra o aumento:

Capitão Assumção ES

Luiza Erundina SP

Mauro Nazif RO


-----------------------------------

PSC

DOIS dos 11 votaram CONTRA:

Regis de Oliveira SP

Takayama PR


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PSDB

QUATRO dos 28 políticos votaram CONTRA o aumento:

Alfredo Kaefer PR

Emanuel Fernandes SP

Gustavo Fruet PR

José C Stangarlini SP

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PSOL

TODOS VOTARAM CONTRA O AUMENTO:

Chico Alencar RJ

Ivan Valente SP

Luciana Genro RS

---------------------------------

PT

NOVE dos 44 parlamentares votaram CONTRA:


Assis do Couto PR

Cida Diogo RJ

Décio Lima SC

Eduardo Valverde RO

Iran Barbosa SE

Luiz Couto PB

Magela DF

Paulo Pimenta RS

Vander Loubet MS

----------------------------------------
-

PTB

Apenas UM dos 10 parlamentares votou CONTRA:

Ernandes Amorim RO
----------------------------------------

PTC

De DOIS, apenas UM votou CONTRA:

Paes de Lira SP 


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PT do B

Apenas UM parlamentar, que votou a favor do aumento.

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PV

Dos 10 políticos, apenas QUATRO votaram CONTRA:

Dr. Talmir SP

Fernando Gabeira RJ

Henrique Afonso AC

Luiz Bassuma BA

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

 

Luis Fernando Verissimo - Não deu

Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre, 26 de setembro de 1936 é um escritor brasileiro. Mais conhecido por suas crônicas e textos de humor, publicados diariamente em vários jornais brasileiros - Artigo publicado em O GLOBO - 13/01/11
NÃO DEU
Nosso time é a nossa segunda pátria. Tem até hino e bandeira, como a outra pátria. Conhecemos a sua história, cantamos as suas glórias, queremos vê-la sempre vitoriosa entre as nações e a amamos com fervor. Mas, assim como acontece com a pátria de verdade, nem sempre sabemos o que amamos. Ser brasileiro é de nascença mas o time a gente escolhe, geralmente seguindo uma tradição familiar, ou influenciado por alguém, ou pelo fato do time estar em evidência no momento, ou pela simples simpatia. E o que é, exatamente, o objeto dessa paixão que nos pega desde pequenos e nunca nos larga? Não é o clube como entidade social, este nem nos pertence. Suas cores e seus símbolos nos emocionam, mas são apenas cores e símbolos – embora muita gente morra por apenas cores e símbolos. Amamos os jogadores, o time? Mas o time é provisório, é mesmo o que há de mais transitório e fugaz nesse estranho relacionamento. O que amamos, então, é uma abstração, uma ilusão de continuidade mesmo que o time seja sempre outro. Um ideal romântico. O amor por um time é o último exemplo de romantismo puro do mundo.
O problema na relação da torcida com o jogador é este: a torcida ainda vive no século dezenove, os jogadores vivem na era do realismo prático. O jogador ideal da torcida é o que se forma no clube, sobe das divisões de base para o time titular como grande revelação, recebe propostas fabulosas para mudar de time mas mantém-se fiel à camiseta. Enfim, não trai a pátria. Um perfeito herói romântico. Claro que o ideal é frágil e os torcedores já se resignaram aos novos tempos de empresários sem fronteiras, negócios sem limites e jogadores sem espírito de torcedor, mas vez que outra assoma o romantismo. O retorno do Ronaldinho ao Grêmio, de onde saiu mal há dez anos – se tudo acontecesse como o Grêmio queria – seria um triunfo de folhetim à antiga. Um filho do clube voltando perdoado e (se ainda jogasse metade do que jogava no seu auge) levando o time a novas grandes conquistas, resgataria o romantismo de um mundo tornado cínico e sem grandeza. Infelizmente – inclusive para a literatura – não deu certo. 

O Globo, 14/01/2011

Silêncio de Ouro - Merval Pereira

Seu discurso de posse, praticamente repetindo o da vitória na eleição de 30 de outubro, foi das poucas manifestações de viva voz que produziu desde então, fora uma ou outra rápida declaração a jornalistas brasileiros, cada vez mais raras por sinal.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Cristóvam Buarque - Vale a pena ler!

Ervas e flores
Nestes últimos dias, enquanto centenas de bandidos eram presos, diversas crianças nasciam nos morros e favelas do Rio. Os primeiros serão adotados pelos governos ao custo médio de R$ 20.400,00 por ano. Os outros, serão abandonados pelos governos, nada receberão no começo; depois, não mais de R$ 2 mil anuais para sua educação que durará poucos anos em péssima qualidade. O Brasil gasta corretamente dinheiro para arrancar as ervas daninhas da sociedade, mas se nega estupidamente a gastar o dinheiro necessário para fazer florescer as flores que são as nossas crianças.
É tão óbvio o absurdo de adotar bandidos e não adotar também os recém-nascidos que é preciso perguntar o que leva uma sociedade a agir dessa maneira. Uma explicação é a maneira superficial como o Brasil considera os problemas na medida em que eles são visíveis: os bandidos são problemas visíveis, as crianças não atacam, não promovem motim, não votam. Por isso, prisões fazem falta, escolas não.
Além de injusto, isto é estúpido porque perdemos o potencial que há dentro de cada criança e corremos o risco de alguns serem levados, por necessidade, à criminalidade no futuro.
Esta aversão às mudanças estruturais e a preferência pelo jeitinho, tem a ver com a histórica característica de uma sociedade atávica e violenta, que defende privilégios graças a uma violência invisível contra os índios e os escravos, contra homens com fome do outro lado da cerca. Vê-se a violência do esfomeado sem trabalho, não a violência da exclusão ao direito de trabalhar na terra improdutiva.
Na luta contra a violência, prefere-se o jeitinho da superficialidade de prender os “violentos” do outro lado da cerca, ao invés de derrubar a cerca para fechar a fábrica de violência. Usa-se o que é preciso hoje, sem cuidar do amanhã. Para hoje, os policiais, para amanhã os professores; para hoje as balas, para amanhã os computadores; para hoje mais cadeias, para amanhã mais escolas; para hoje adotar bandidos, para um dia talvez adotar também crianças. O que é para construir o amanhã fica para amanhã.
E para justificar esta preferência suicida, preferimos não ver toda a violência. Vemos a violência dos bandidos que deve ser impedida com cadeias, não a da exclusão das crianças que nascem no mesmo momento, precisando de escolas. Não vemos as violências invisíveis para podermos ver apenas a violência visível.
A tomada dos morros das mãos dos bandidos é uma condição imediata necessária. Obstante, é apenas um jeitinho passageiro, que não trará a paz. Livrará a sociedade dos bandidos, inclusive os pobres dos morros, que vivem ao lado do tráfico, perdendo seus filhos, sem inclui-los no mundo da paz e sem protegê-los contra as violências escondidas na invisibilidade. Assim, as violências históricas continuam sendo praticadas como, por exemplo, a mãe de todas as desigualdades: a desigualdade na qualidade da escola e na qualidade da saúde.
O caminho é construir escolas, privilegiar e formar professores, fazer uma doce revolução pela educação. Além de cadeias para adotar as ervas daninhas com a máxima segurança, é preciso construir escolas iguais, com a máxima qualidade, em todos os morros, bairros e condomínios para adotar uma nova geração de crianças, nossas flores. Se a federalização da luta contra os bandidos é aceita, a federalização da revolução educacional também deve ser.
Porque quando todas as crianças tiverem a mesma escola, menos jovens cairão no crime e o futuro será disputado em condições iguais entre as flores dos morros e as flores dos condomínios fechados, combatendo uma lógica, também invisível, na aparente estupidez de adotar os bandidos e não adotar as crianças. Afinal, as ervas daninhas são do presente, as flores apenas uma hipótese para o futuro.

Cristovam Buarque é Professor da Universidade de Brasília e Senador pelo PDT/DF

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Eleições - Eça e Bakunin tinham razão!


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